terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Aleph - Filipe Costa



"Na parte inferior do degrau, à direita, vi uma pequena esfera furta-cor, de quase intolerável
fulgor. A princípio, julguei-a giratória; depois, compreendi que esse movimento era uma ilusão
produzida pelos vertiginosos espetáculos que encerrava. O diâmetro do Aleph seria de dois ou três
centímetros, mas o espaço cósmico estava aí, sem diminuição de tamanho. Cada coisa (o cristal do
espelho, digamos) era infinitas coisas, porque eu a via claramente de todos os pontos do universo."

exerto de "O Aleph", de Jorge Luís Borges



Num pequeno conto de Luis Borges, um escritor argentino, foi me dado a conhecer o Aleph, um pequeno ponto por baixo de uma escada velha, um pequeno ponto que concentra todo o universo, tudo o quanto nele possa existir, sem o misturar.
Borgues foi ficando progressivamente cego, mas sua obra é cheia de imagens, mentais, mas não menos claras e nitidas por isso. O universo dele é habitado por espelhos e labirintos. Ele foi obrigado a fechar os olhos para ver mais além.

Ontem, vi várias pessoas a procurar o seu Aleph, o ponto escondido nas costas, o coração no braço, o corpo a deixar de ser estranho...ontem, sem obrigação, decidiu-se fechar os olhos, e tentar verdadeiramente ver.
Ontem, de certa forma, ganhei consciência da beleza, ganhei consciência da sua ausência, não a descobri, tão pouco me aproximei de tal. Mas, procurando-a, torna-se óbvia a sua ausência.
 O meu Aleph ontem foi a descoberta de um espaço novo, aparentemente vazio, ou que talvez contenha todo o meu universo, não sei. Mas a consciência da ausência convida-me a construir no escuro.
Aceito o convite.

2 comentários:

  1. E a beleza desse ponto é que como todos os pontos ele está sempre em mudança, sempre a relocalizar-se no gigantesco mapa do universo. E nós à procura... jogamos o jogo das delícias de uma possível descoberta. Do ponto, de uma sucessão deles, de um vazio... talvez quase cheio...

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  2. Da sucessão dos pontos nasce uma linha que nos liga até ao infinito e ele nos devolve o que ele contem...

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